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Carta dos editores

Este número é amarrado por diferentes tentativas de tematizar a construção de sentido – da poesia, de uma obra, de uma imagem. Partindo de diferentes abordagens, os textos têm em comum uma perseguição do que parece inescrutável. Não pela crença de que o sentido encontra-se numa dimensão metafísica ou absoluta, sobrehumana, mas justamente pela aposta no sentido como linguagem, e no seu encalço como exercício inesgotável. Sobretudo, talvez se trate de uma aposta dupla, que enxerga também a própria potência desta busca, ao mesmo tempo que reafirma a proficuidade da pesquisa nas margens do cânone – na produção latinoamericana, feminina, gay.  


Duas imagens ilustram a força de como o problema do sentido é colocado. A primeira é a do cão que corre atrás do próprio rabo. A perseguição infinita encontra algum paralelo na busca da poeta pelo sentido da poesia, um dos temas de Clarisse Lyra no ensaio “sombras, nada mais”, que aborda a busca pela inteligibilidade e pela comunicação na obra de Alejandra Pizarnik. Já Isabella Beneduci, em “cão”, trata de sua própria perseguição/obsessão, a imagem do cão atrás do próprio rabo – que também ilustra a nossa edição. 


A segunda imagem é a costura, ou o bordado, cujo gesto fundamental ora invade a materialidade da obra, ora se presta a mote metafórico e histórico. Tamara Kamenszain, em tradução de Clarisse Lyra, estabelece a relação entre artesanato e a escrita feminina em “Bordado e costura do texto”; Pacelli Dias nos conduz pelos sentidos dos fios traçados na obra de Leonilson, no ensaio “Em cada ponto há um vazio e um afeto”


Em “A poesia vem de uma necessidade de nos modificarmos”, Eduarda Rocha entrevista a poeta Cecilia Pavón, que discorre sobre o sentido da poesia e do ato de escrever a partir de sua própria trajetória. Já os poemas de Martim Moreau Maita são habitados por imagens de mãos, em conceito e em ação.  


Por fim, o ensaio de André Gide, traduzido por André Martins, nos faz olhar para Nietzsche, talvez um dos filósofos que mais tenha compreendido a potência – e a melancolia – da infindável busca pelo sentido, de perseguir aquilo que se encontra escondido ou, pior ainda, ignorado.


Boa leitura! 

n. 6 | 01-2020

Antonio Kerstenetzky
Clarisse Lyra

Luiz Eduardo Freitas

Editores 

André Martins

Daniel Mano

Hugo Salustiano

Nathalia Carneiro
Pedro Motta

Victor Fernandes

Conselho editorial

Beatriz Reis

Luiz Eduardo Freitas

Projeto gráfico

Desenhos de 

Isabella BeneducI

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