Poemas
Reina María Rodriguez
Tradução: Chayenne Mubarack
Para um cordero blanco (1984)
una silla en lo alto
una mujer se ha sentado en tu silla turca
sin desnudarse
tan solo allí
cuando sueñas cuando vuelves
de las complicaciones.
una mujer está hecha de esa soledad
que existe entre lo cotidiano y el deseo.
vuela ante el parabrisas
te engaña detiene
y luego escapa.
para toda mujer hay un trono
en el centro de un hombre.
una silla en la conciencia.
yo vivo sobre la nariz entre tus ojos
bajo la frente
solo tus huesos son cómplices de mi ocio
así los árboles nos traspasan
los colores nos iluminan juntos
y así la muerte nos matará a los dos
bocarriba
entre tus pensamientos
y mi llanto.
En la arena de Padua (1992)
las islas
mira y no las descuides.
las islas son mundos aparentes.
cortadas en el mar
transcurren en su soledad de tierras sin raíz.
en el silencio del agua una mancha
de haber anclado solo aquella vez
y poner los despojos de la tempestad y las ráfagas
sobre las olas.
aquí los cementerios son hermosos y pequeños
y están más allá de las ceremonias.
me he bañado para sentarme en la yerba
es la zona de brumas
donde acontecen los espejismos
y vuelvo a sonreír.
no sé si estás aquí o es el peligro
empiezo a ser libre entre esos límites
que se intercambian:
seguro amanecerá.
las islas son mundos aparentes
coberturas del cansancio en los iniciadores
de la calma
sé que solo en mí estuvo aquella vez la realidad
un intervalo entre dos tiempos
cortadas en el mar
soy lanzada hacia un lugar más tenue
las muchachas que serán jóvenes una vez más
contra la sabiduría y la rigidez
de los que envejecieron
sin los movimientos y las contorsiones del mar
las islas son mundos aparentes manchas de sal
otra mujer lanzada encima de mí que no conozco
solo la vida menor
la gratitud sin prisa de las islas en mí.
peligro
Anka
la perra negra cayó
desde el muro más alto al centro de la calle.
sin escándalo cayó. otros saltan desfilan
por los bordes de los muros en una caravana.
otros bailan aletean silban a coro. sin un destino
todavía quieren prometer algún destino
no sé por qué.
los niños no la vieron caer ha saltado
en la mañana de septiembre. otras cosas
cayeron también
y estoy avergonzada. no quisiera medir más
esa altura
de estar abandonada y sola en el alero.
ella solo jugaba a no estar sola y oía voces
tenía miedo del engaño y buscó
un hueco para atravesar
el miedo – ese aro que hace el muro hacia el alcance
de la noche.
ella solo soñaba con la sombra de su figura negra.
todos piensan que fue por accidente.
nadie cree en el suicidio de los perros
simplemente caer por avería. pero los niños saben
los niños han puesto un pañuelo sobre la cortadura
y una cruz
ellos sospechan saben que habrá después
otra cacería de los perros noctámbulos cuando
salga la luna.
que no se derrame todo al suelo. vacía y oscura
es una mancha
no la vimos caer
yo también iré hacia la ventana a prometerle
alguna cosa
tal vez lloverá
nadie podrá imaginar su forma oscurecida
contra las losas
frías. es el presagio de los perros cuando caen
el salvoconducto sin gloria de los que renunciaron.
yo quiero prometer alguna cosa
todavía quiero prometer
no sé por qué.
Catch and Release (2005)
Catch and Release
Para Frank León
el anzuelo de la voluntad de las limaduras del ser…
Antonin Artaud
Coger y dejar sin que el anzuelo penetre
detener un momento al pez entre los dedos
acariciar es demasiado gesto
y poseer, un crimen.
Yo diría tocar de un modo diferente
que podría ser áspero al contacto de la primera vez
sin apartar la espina que provoca la escama.
(La espina es la mentira).
Tiempo de lo perdido andaba buscando
un límite del tacto.
He visto peces que naufragan como hombres
conchas desechas
y la mala palabra del animal
que agota su intención entre los dedos.
He dicho escama
para no decir ausencia del deseo
de tocar aquellas cosas
trascendentes. ∎
Reina María Rodriguez (La Habana, 1952). Autora de quase vinte títulos de poesia e prosa, entre eles: Para un cordero blanco (1984), En la arena de Padua (1992), Páramos (1995), Te daré de comer como a los pájaros (2000), Bosque negro (2004), Catch and Release (2005), El libro de las clientas (2005), Variedades de Galiano (2007), Poemas de Navidad (2011) e Otras mitologías (2012). Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais de poesia, sendo o Premio Iberoamericano de Poesía Pablo Neruda (2014) o mais recente. Atualmente dirige o espaço de divulgação cultural Torre de Letras. Em 2012, Reina María recebeu o Prêmio Nacional de Literatura.
Para um cordeiro branco (1984)
uma sela no alto
uma mulher se sentou na tua sela turca
sem desnudar-se
tão somente ali
quando sonhas quando voltas
das complicações.
uma mulher é feita dessa solidão
que existe entre o cotidiano e o desejo.
voa diante do para-brisas
te engana detém
e logo escapa.
para toda mulher há um trono
no centro de um homem.
uma sela na consciência.
eu vivo sobre o nariz entre teus olhos
sob a testa
só teus ossos são cúmplices do meu ócio
assim as árvores nos transpassam
as cores nos iluminam juntos
e assim a morte matará nós dois
de barriga para cima
entre teus pensamentos
e meu pranto.
Parte de Violet Island e outros poemas, antologia a ser publicada pela Malha Fina Cartonera. A venda dos livros vai acontecer nos dias 04 e 05 de maio na Feira Desvairada, na biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo.
Na areia de Padua (1992)
as ilhas
olha e não as descuides
as ilhas são mundos aparentes
cortadas no mar
transcorrem em sua solidão de terras sem raiz
no silêncio da água uma mancha
de haver ancorado só aquela vez
e pôr os cacos da tempestade e as rajadas
sobre as ondas.
aqui os cemitérios são belos e pequenos
e estão além das cerimônias.
me banhei para sentar-me na grama
é a zona de brumas
onde acontecem as miragens
e volto a sorrir.
não sei se estás aqui ou é o perigo
começo a ser livre entre esses limites
que se entrelaçam:
seguramente amanhecerá.
as ilhas são mundos aparentes
coberturas do cansaço nos iniciadores
da calma
sei que só em mim esteve aquela vez a realidade
um intervalo entre dois tempos
cortadas no mar
sou lançada para um lugar mais tênue
as moças que serão jovens mais uma vez
contra a sabedoria e a rigidez
dos que envelheceram
sem os movimentos e as contorções do mar
as ilhas são mundos aparentes manchas de sal
outra mulher lançada em cima de mim que não conheço
só a vida menor
a gratidão sem pressa das ilhas em mim.
perigo
Anka
a cadela preta caiu
do muro mais alto ao centro da rua.
sem escândalo caiu. outros pulam desfilam
pelas beiras dos muros numa caravana.
outros dançam adejam assoviam em coro. sem um destino
ainda querem prometer algum destino
não sei por quê
as crianças não a viram cair saltou
na manhã de setembro. outras coisas
caíram também
e estou envergonhada. não gostaria de medir mais
essa altura
de estar abandonada e sozinha no beiral.
ela só brincava para não estar só e ouvia vozes
tinha medo do engano e procurou
um buraco para atravessar
o medo – esse aro que tem o muro até alcançar
a noite.
ela só sonhava com a sombra da sua figura preta.
todos pensam que foi por acidente.
ninguém acredita no suicídio dos cães
simplesmente cair por avaria. mas as crianças sabem
as crianças puseram um lenço sobre a rachadura
e uma cruz
eles suspeitam sabem que haverá depois
outra caçada dos cães noturnos quando
sair a lua.
que não se derrame tudo no chão. vazia e escura
é uma mancha
não a vimos cair
eu também irei até a janela para prometer-lhe
alguma coisa
talvez choverá
ninguém poderá imaginar sua forma escurecida
contra as lápides
frias. é o presságio dos cães quando caem
o salvo-conduto sem glória dos que renunciaram.
eu quero prometer alguma coisa
ainda quero prometer
não sei por quê.
Catch and Release (2005)
Catch and Release
Para Frank León
o anzol da vontade das limalhas do ser...
Antonin Artaud
Fisgar e deixar sem que o anzol penetre
deter um momento o peixe entre os dedos
acariciar é demasiado gesto
e possuir, um crime.
Eu diria tocar de um modo diferente
que poderia ser áspero ao contato da primeira vez
sem afastar a espinha que provoca a escama.
(A espinha é a mentira)
Tempo do perdido andava procurando
um limite do tato.
Vi peixes que naufragam como homens
conchas desfeitas
e a palavra ruim do animal
que esgota sua intenção entre os dedos.
Eu disse escama
para não dizer ausência do desejo
de tocar aquelas coisas
transcendentes. ∎
Chayenne Orru Mubarack (São Paulo, 1994). Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana da Universidade de São Paulo. Professora de espanhol, tradutora do selo editorial Malha Fina Cartonera e integrante do “Coletivo de Literatura LGBT Reinaldo Arenas”.